sexta-feira, 29 de outubro de 2010

DESAFIO PRAIAS E TRILHAS - 1º DIA

Chego no refeitório as 4 hs da manhã. Já estava aberto e já encontro corredores fazendo sua refeição. Fico num local estratégico e tomo o meu café da manhã. Depois vou ao quarto mas nem vontade de ir ao sanitário, mas não fico estressado e vou para a frente do hotel de onde sairia os ónibus para Caieira, onde começaria a prova.
Logo somos convidados para entrar no primeiro ónibus e partimos, passando por uma pousada próximo onde tinha outro grupo hospedado. Chegando no local da largada, não encontramos nenhum banheiro químico e antes que fosse liberado o da escola, vários corredores já procuravam os muros. Somos convidados para fazermos a pesagem e conferência dos itens que somos obrigados a levar: 01 litro d'agua, 01 lençol térmico, 01 apito, Faixa de Crepom.
Após esta etapa fomos para o pátio da escola onde foi armado o local para a partida. É dada a largada e pegamos uma estrada asfaltada na direção oeste e por enquanto estava tudo tranquilo, só  que tinha umas subidas e descidas constantes. Começo a ficar para trás e entro na trilha já com mais de 4 km do inicio. No começo ainda não temos a dimensão do que iremos encontrar e talvez como defesa já começo a achar que a trilha era forte e que a próxima seria mais fácil. Neste inicio passa por mim num momento que caminhava com ameaça de cãibras, um senhor que diz que é morador da área e que costuma passar umas quatro vezes por dia pela trilha e que esta era fácil em comparação com a que vinha depois. As trilhas são muito difíceis, porque além da dificuldade da altura, que temos que usar toda nossa resistência, têm muitas pedras durante todo o percurso, então no máximo conseguimos é andar rápido e cheguei a fazer 01 km desde 15' atá 28' cada um. Sonhava em chegar na Praia achando que seria bem mais fácil e conseguiria recuperar uma melhor média. Quando vamos para a praia nos defrontamos com areia fofa em toda a praia, também não era possível correr todo o tempo, pois não tinha feito treino especifico, nem de areia, nem de trilha, mas consigo ir mais rápido e fazer o km de 9' até 13' por km que já era bem melhor do que os 28' das trilhas. Mas ficava a ilusão que a próxima trilha seria melhor e a próxima praia seria de areia dura. Também começo a me preocupar com o dia seguinte, teria que terminar bem, confortável, sem forçar para ter condições de enfrentar o 2º dia, porque é o maior índice de abandono de corredores que terminaram o primeiro dia e desistem no segundo dia, alguns ainda tentam os primeiro quilómetros e abandonam logo no começo. Numa das saídas da trilha chego numa praia e vejo três cachorros deitados como se olhassem quem chegava na praia e passo por eles sem encara-los mas vigilante e vou me distanciando e eles ficam indiferentes.  No final da trilha seguinte, numa praia pequena, com muitos banhistas sou pego de surpresa com um cachorro que me ataca de surpresa e ainda sinto sua dentadura na minha panturrilha esquerda mas grito e dou um salto e o cachorro sai correndo, sem me ferir, deixando só minha calça rasgada com um furo, como se tivesse enganchado numa presa. Finalmente acabamos as trilhas e agora só temos praias e sonhando que apareça alguma de areia mais firme. Continuo vigilante com o ritmo, que neste momento esta alto mas começo a diminuir e tenho certeza que conseguirei terminar  tranquilamente no tempo. Termino com 09:30':30''. Na conferência do peso, perdi 2,1 kg. Não estou muito cansado nem dolorido, acho que o corpo tinha se preparado para os dois dias e por enquanto só estava na metade, então parecia que não relaxava, me sentia disposto. Fui fazer um lanche e conversar com outros corredores e cada um contando suas proezas, cada um com historias mais interessantes do que o outro, depois fui tomar banho e sai para comer comida de panela pois meu organismo estava pedindo. Vou para o restaurante na frente do hotel e têm vários fazendo sua refeição e vou para uma mesa e trocamos informações. Uma coisa que me deixou surpreso foi que a maioria já tinha corrido esta prova outras vezes e eu estava pensando na corrida que ninguém repetiria aquela loucura, que era indescritível, não conseguia palavras para descreve-la. Cheguei a cogitar no meio da prova se valia a pena terminar, se a loucura não teria tomado conta de vez. Mas também me lembrava das outras experiências que a medida que fosse se distanciando iríamos refazendo e reformulando e que depois de algum tempo seria possível que decidisse voltar no ano seguinte que é o que está acontecendo agora.

6 comentários:

  1. Ésio,
    Parabéns! Muita força de vontade e concentração. Parece que o universo estava conspirando contra você, quantas dificuldades...
    Aguardo fotos e mais relatos.
    Boa sorte!
    Gilmar
    http://www.fotocorridagilmar.blogspot.com/

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  2. Ola Gilomar,
    Não tirei fotos, tudo era muito bonita, era para ir tirando foto durante todo o tempo, o que tinha de dificuldade tinha de beleza. Cheguei a pensar em voltar la bem treinado e tirar todas as fotos que com certeza seriam muitas. Só uma vez, no segundo dia parei em cima do Costão e tirei três fotos e fui ultrapassado por um concorrente direto e tive que traçar uma estrategia demorada para recuperar e chegar 4' na frente. Não tinha nada conspirando contra, mas que era muito dificil, nunca tinha imaginado nada igual, 21 km de praia com areia fofa sem estar treinado e trilhas que tinha que sair pulando pedras durante todo o tempo, fazer 01 km em 28'.

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  3. Ésio, deve ter sido uma experiência incrível. Levar uma mordida de cachorro é fichinha para o que você enfrentou. Parabéns!

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  4. Caro Ésio. Cachorro é inviável. Minha indisposição com o mundo terra são os cachorros. Não gosto deles no asfalto, quanto mais na terra onde eles se enchem de autoridade. Você é muito forte, essa é minha conclusão. E vai ainda para Búzios. Continuo na torcida. Grande abraço.

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  5. Miguel, as vezes fazemos as coisas sem saber a dimensão exata e de repente estamos lá. Fiz minha inscrição no Desafio, na Sol Poente, Buzius e Curitiba quase no mesmo dia, so a Mauricio de Nassau é que fiz hoje. No Desafio pensei muito, as vezes ficava pensando de onde vinha tanta força e enrgia e a disposição para o segundo dia parecendo que seria o primeiro, sem sentir dor ou cansaço. O nosso psiquismo é realmente fenomenal, ele planeja, decide e nos prepara para o que temos de fazer. Foi uma das melhores experiência que ja tive como maratonista. Estou mais tenso com a Maratona Mauricio de Nassau por causa da temperatura.

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  6. Ricardo, o Desafio é uma loucura, na hora não acreditava que estava naquela situação, so vinha uma força incrivel de superação. Quando vi que não tinha ficado ferido, esqueci e fui em fente. Logo no primeiro posto de hidratação soube que um corredor tinha que o abandonado a corrida porque tinha sido mordido. Hoje estava dizendo a Julio que o Desafio deixa uma marca forte, fica o antes e o depois do Desafio.

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